domingo, 25 de outubro de 2015

O vampiro vai ao cinema

Semelhante ao que foi observado na pesquisa sobre os vampiros folclóricos e na criação do vampiro literário,a Alemanha produziu um dos primeiros e mais importantes filmes sobre as criaturas da noite até hoje: Nosferatu (1922).
Baseado superficialmente na obra de Bram Stoker, este clássico do expressionismo alemão capturou a atmosfera da derrotada Alemanha do pós-guerra, refletindo-a no enredo de Henrik Galeen e direção de Murnau.Este foi o filme que mais se aproximou do folclore do leste europeu no que se refere à representação de um vampiro ao apresentar uma criatura alta, esquálida,com orelhas,nariz e dentes pontiagudos como um rato e nenhum sex appeal. Nosferatu também introduziu a rejeição à luz do sol, uma ideia que se tornou parte das convenções do gênero.
O zeitgeist do entre guerras também esteve por trás da produção cinematográfica norte-americana. Drácula (1931).Estrelado pelo ator húngaro Bela Lugosi no papel título, o filme dirigido por Tod Browning foi a primeira adaptação oficial do livro de Bram Stoker e o primeiro filme sonoro do gênero,inaugurando a trilogia dos monstros clássicos do estúdio Universal Pictures ao lado de Frankenstein (1932) e A múmia (The Mummy) (1932).
Ao longo desta mesma década, a Universal Pictures ficou conhecida como produtora de filmes de monstros,refletindo o apelo popular que estes seres tinham como válvula de escape para os problemas decorrentes da Grande Depressão Americana dos anos 30.O Drácula de Bela Lugosi trouxe para a tela do cinema o visual aristocrático cunhado na era romântica inglesa, introduzindo a indefectível capa usada por Drácula e que se tornou parte da vestimenta do conde vampiro.No ano seguinte, o vampiro feminino também estrearia no cinema na produção euroupeia Vampyr, baseado parcialmente na novela Carmilla.
Nos anos 60,outra produtora de filmes, esta britânica,aproveitou a introdução das cores no cinema e a flexibilização dos códigos morais da década anterior para ressaltar o elemento sexual do vampiro a partir de fartas jorradas de sangue. Drácula (1958),chamado de The Horror of Dracula (O horror de Drácula) nos Estados Unidos, fez vom que a Hammer Films começasse uma longa série de produções com o personagem de Bram Stoker.
Escalado para o papel principal, o ator inglês Christopher Lee reforçou a representação aristocrática do conde romeno ao mesmo tempo que enfatizou o almente as mulheres,sentem pelo vampiro. O horror de Drácula foi também o filme em que as presa do vampiro apareceram pela primeira vez.
Os anos 70 mostraram o vampiro de cara nova na literatura.Alinhando-se com as inovações temáticas levadas a cabo pelo pós-modernismo, escritores como Chelsea Quinn Yarbro, Frederick Thomas Saberhagen e Anne Rice ronovaram as convenções literárias que regiam a literatura de vampiros desde Drácula. Yarbro apresentou a série St. Germain na qual são mostradas as aventuras do vampiro St. Germain,inspirado em um obscuro personagem histórico do século XVIII. O vampiro de Yarbro tem 3000 anos de idade, é imune a muitas armas contra vampiros como o espelho, o crucifixo e o alho, pode ter relacionamentos sexuais e usa sapatos nos quais carrega um pouco do seu solo nativo. O romance de estreia de St. Germain foi Hotel Transylvania (1978).
Seguindo a tendência pós-moderna em dar voz ao discurso do marginalizado e do oprimido, Frederick Thomas Saberhagem escreveu The Dracula Tape(1975). Neste romance o próprio Drácula narra os eventos mostrados no romance de Bram Stoker a partir do seu ponto de vista.O Drácula que emerge deste relato é um personagem vitoriano foi seguida em outros livros nos quais Drácula se envolveu em diferentes aventuras.
Lestat de Lioncourt,apresentado no livro Entrevista com vampiro (Interview with the Vampire)(1976),de Anne Rice,se coloca ao lado de Drácula como personagem mais influente sobre representações contemporâneas do vampiro. Protagonista das Crônicas vampirescas, Lestat apresenta uma sexualidade ambígua,refletindo a discussão de Rice sobre a androginia do ser vampírico. 
Como tal, ele estava além de normas sociais definidas sobre gênero. Antes de Rice,apenas Fanu, em Carmilla,havia abordado a androginia latente do vampiro. Com o personagem de Anne Rice o vampiro a partir dos anos 80 passou a ser associado com a alienação e rebeldia da juventude e seu questionamento das instituições mantenedoras do status quo. Essa leitura está presente,por exemplo,no filme Os garotos perdidos (1987).
Os anos 90 foram marcados pelo aparecimento da AIDS e seu profundo impacto nas relações sociais. Historicamente associado a várias enfermidades e distúrbios como a peste bubônica, a anemia,a porfiria, a tuberculose e até a catalepsia, o vampirismo desde então passou a ser representado,principalmente no cinema e na TV, como uma doença adquirida e transmissível ao mesmo tempo em que se estabeleceu a imagem do vampiro como um ser marginalizado pelo sistema. Filmes como Blade (1998), Ultravioleta (Ultraviolet)(2006) e a série televisiva True Blood (2008) exemplificam essa nova interpretação do fenômeno do vampiro.

O romance de Bram Stoker também refletiu este novo contexto cultural em 1992 na produção cinematográfica Drácula de Bram Stoker (Bram Stoker's Dracula). Lançado no auge do temor da AIDS, o filme faz uma ligação do sangue com as doenças venéreas,ressaltando a ligação do sexo com a transgressão.

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